Integrantes do PL tentam diminuir o impacto da divulgação de um áudio “possivelmente gravado” por Alexandre Ramagem (PL-RJ) em reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2020, e esperam que a repercussão aumente o número de eleitores que associem o pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro ao ex-mandatário.
Dias após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes quebrar o sigilo de gravação de encontro, Bolsonaro mantém agendas públicas nesta semana com Ramagem na capital.
Membros da cúpula estadual da sigla atenuam a reverberação do caso para Ramagem e afirmam que a divulgação dos áudios animou Bolsonaro e a pré-campanha.
Internamente, o partido entende que o conteúdo não pôs em risco a relação de confiança entre Bolsonaro e Ramagem e a repercussão pode aglutinar eleitores que ainda não associaram Ramagem como pré-candidato de Bolsonaro.
De acordo com esses integrantes do PL estadual, o ex-presidente pretende falar sobre o assunto durante as agendas públicas.
O PL organiza dois eventos com Ramagem e Bolsonaro na capital fluminense: um na Tijuca (zona norte), na quinta-feira (18) e outro em Campo Grande (zona oeste), na sexta (19). Até sábado (20), Bolsonaro ainda tem agendas públicas na Baixada Fluminense —Duque de Caxias e Itaguaí—, em Niterói, e em Angra dos Reis, município da costa verde do estado.
Nesta quarta (17), antes das agendas, Ramagem, ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), deve prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, no âmbito das investigações sobre a chamada “Abin paralela” no governo de Bolsonaro.
Na segunda-feira (15) Moraes quebrou o sigilo de áudio “possivelmente gravado” por Ramagem durante reunião ocorrida em agosto de 2020 no Palácio do Planalto.
Participaram da reunião que resultou na possível gravação, além de Ramagem, o então presidente Bolsonaro, o então ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e duas advogadas de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
O áudio mostra que as advogadas buscavam meios para anular as investigações de “rachadinha” contra Flávio, em especial por meio do Serpro —estatal que detém os dados do Fisco—, que poderia mostrar acessos ilegais a dados do filho do presidente por servidores da Receita Federal no Rio de Janeiro.
Nele, segundo a PF, é possível identificar a atuação de Ramagem indicando que seria necessária a instauração de um procedimento administrativo contra os auditores da receita. A medida teria o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos.
Ramagem disse, em vídeo divulgado na segunda-feira (15) nas redes sociais, que a gravação não foi clandestina e teve aval do então presidente.
“O presidente Bolsonaro sempre se manifestou na reunião por não querer favorecimentos ou jeitinhos. Eu me manifestei contrariamente à atuação do GSI no tema, indicando o caminho por procedimento administrativo pela Receita Federal, previsto em lei, e ainda judicial no STF”.
Durante sua passagem pelo estado do Rio, o ex-presidente terá encontros com aliados em outros municípios, como Netinho Reis (MDB), pré-candidato a prefeito de Duque de Caxias. Ele é sobrinho de Washington Reis, ex-prefeito do município, secretário estadual de Transportes do governador Cláudio Castro (PL) e aliado de Bolsonaro.
No último dia 4, Washington Reis foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em operação que investiga a falsificação de certificados de vacina contra a Covid-19 em torno do ex-presidente. Em nota divulgada em suas redes sociais, Washington ligou a operação à polarização política.
Em Niterói, Bolsonaro estará ao lado do deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), pré-candidato a prefeito do município. O deputado foi alvo de busca e apreensão no gabinete, durante investigação da PF sobre planejamento e financiamento dos atos de 8 de janeiro.
Yuri Eiras/Folhapress